Tive uma gravidez delicada. Passei 6 meses alternando trabalho com repouso. Mais repouso - e medo - do que trabalho. Tive placenta baixa e 3 sangramentos durante a gestação. Isso, para uma grávida, é a pior coisa do mundo. A sensação é de aborto e não há nada pior do que achar que você está perdendo algo que tanto quis e amou desde o início.
Engravidei com 24 anos, sem planejar e sem ter condições para que um filho entrasse em nossas vidas. Tudo era recente, o pai estava muito assustado mas em momento algum eu pensei em desistir: a partir do momento em que fiz o ultrasson (no mesmo dia que descobri a gravidez) eu já amei aquele filho mais do que minha própria vida.
Voltando àquela terça-feira ensolarada...
Acordei já com tudo pronto: quarto arrumado, malas feitas e as unhas perfeitas (meu maior medo era entrar em trabalho de parto com as unhas feias. Não me pergunte porque! rs). Chegando na consulta, a notícia: não havia um cm sequer de dilatação. Meu médico - que é medico da minha mãe e ME colocou no mundo - é uma das pessoas em que mais confio nessa vida. Ele me falou dos riscos de esperar mais um pouco e que, caso entrasse em trabalho de parto, acabaria fazendo uma cesárea da mesma forma. Disse que o melhor seria fazer o parto logo para evitar que minha Beatriz sofresse. Não pensei duas vezes e perguntei quando seria o parto. Ele respondeu que naquela tarde.
Fiquei azul, em estado de choque, sem ar. Chorei, peguei o papel e fui para a maternidade, que era ao lado do consultorio. No mesmo momento que assinei os papeis e dei entrada no hospital, subi para o quarto, troquei de roupa e a enfermeira ja estava me aguardando para subir para o bloco. Em prantos, segurei a mão do Beto - pai da Beatriz - e pedi para que ele não fosse embora nunca mais.
Subimos, fui para o bloco sozinha, estava tremendo e muito nervosa quando o dr Amando, anestesista, chegou e me acalmou. EU sou muito sensível para anesteisa. Nunca havia tomado algo parecido. Fiquei maluca, dizendo que o meu bumbum estava quente e pegando fogo. Não parava de falar. Falava só besteira e perguntava sempre onde o Beto estava.
Beto chegou e sentou com as mãos na minha cabeça. Foi incrível o que ele fez. Conversava comigo e fazia carinho na minha testa. Me acalmei.
Um dos momentos mais emocionantes foi olhar para trás e ver meu pai - ao lado da minha mãe, meu irmão, a mãe do Beto e uma tia dele - aos prantos. Ele estava muito emocionado. Ver meu pai preocupado e ao mesmo tempo feliz me fez chorar de emoção. Aquele momento realmente estava acontecendo e parecia ser um sonho.
Meu médico, Dr Leo Miller, anunciou que o momento estava chegando. Senti uma pressão quando houve o corte e comecei a chorar mais ainda. Ele me disse que ela era muito cabeluda. Eu, doidona de anestesia, perguntei se ela não tinha cabelo. Mais uma pressão. Disse ao Beto que estava nascendo. Ele se emocionou. Até que eu disse: "Saiu!" e eu ouvi o som mais bonito da minha vida: minha filha chorando! Tio Leo disse que realmente era uma menina. Eu, loucona de peridural, entendi que NÃO era uma menina. Mas ele me corrigiu no mesmo instante. Depois de enrola-la na manta, toda sujinha de sangue, colocaram em cima do meu peito. Quando falei "minha filha, eu te amo. Estou aqui. É a mamãe!" ela imediatamente parou de chorar. Ali nascia uma família, nascia um amor eterno, um respeito eterno e um laço indestrutível.
Levaram-na para pesagem, limpeza e todos os procedimentos padrões. Beto a acompanhou com todo carinho. Fiquei para os procedimentos finais... e, para minha surpresa, ali ainda estava meu pai. Sozinho, no cantinho daquela salinha de vidro, chorando e muito vermelho. Ele estava feliz pelo nascimento da Neta, porém estava ao meu lado pelo amor que sempre me deu, por ser meu eterno companheirão e meu melhor amigo.
Gratidão, Papai.
Fiquei durante 1 hora na sala pós parto para monitoramento. Tentei dormir porque todos sempre me diziam na gravidez que eu nunca mais dormiria depois do nascimento. #mentira!
Os minutos não passavam, arrastavam. Perguntava para a enfermeira quando é que ela estaria comigo outra vez. Até que uma bebezinha linda de oncinha chegou toda enrolada numa manta branca. Beatriz veio enfim para os braços da mamãe. Imediatamente a coloquei para mamar... e nunca mais, desde então, nos separamos.
Mamães, sou muito grata por terem dividido suas histórias comigo. Algumas muito sofridas porém todas maravilhosas.
Espero que tenham se emocionado com meu relato, assim como me emocionei com cada uma de vocês.
Lembrando que em nenhum momento me arrependi de ter me submetido a uma intervenção cirúrgica. Por mais que desejasse ter tido um parto normal humanizado, o nascimento da minha filha foi maravilhoso ao seu jeito. O que mais me importava era sua saúde, bem-estar e segurança! E foi com muito amor, graças a Deus!
Se, de alguma forma, as coisas não saírem da forma como planejou, não ligue - MESMO.
No final o que realmente importa são nossos filhos com saúde e segurança em nossos braços, nos transbordando de amor e felicidade.
Obrigada pelo carinho!
Caso alguém queira me contar o seu relato e quer privacidade, não hesite em me mandar:
contatomamaedemais@gmail.com
boa noite!
Não me acalmei até que eles a trouxeram