sexta-feira, 15 de maio de 2015

Carta de uma mãe solteira, cesareana, tatuada e com cara de novinha

A verdade é que muito se fala do que deve ser feito e esquecemos do que desejamos que fosse. Criamos e remodelamos verdades e, mesmo sendo "politicamente incorreto" criticar, acabamos sendo o maior dos preconceituosos.

Sou mãe, aparento ser mais nova do que realmente sou e não me casei. Pra completar, tenho mais tatuagens que meu pai gostaria que eu tivesse e ainda acho que vou fazer mais.
Por mais que gostaria, meu parto não foi normal e fui submetida à uma cesárea de última hora.

Numa sociedade em busca de sua libertação, de modelo e valores, no parágrafo acima, quantos preconceitos vocês acham que eu já sofri?

É engraçado dizer, por mais que a gente pense que as coisas estão progredindo, mas a luta por mais TOLERÂNCIA em relação ao NOVO (porque aceitação mesmo eu acho que ainda vai demorar muito) - e NOVO pra não dizer diferente e nem fora do comum - porque NÃO É - está cada dia mais longe, ao meu ver, de acontecer.

Pasmem.

A sociedade ainda se incomoda com a mulher que transou sem ser casada, que aceitou levar uma gravidez adiante - mesmo sem ter "supostamente" a comodidade e o conforto de um apoio maior dentro de um casamento - abrindo mão de "Deus sabe o quanto" (não vou entrar nesse mérito) e se bastar, independente, pra ter uma criança e cria-la sozinha.

Pra completar, a sociedade ainda acredita que tatuagem muda caráter e impede as pessoas de arrumarem emprego. Pra criar filho então? Nem pensar.

A sociedade acredita que meninas novas não são capazes de criar filho. Apesar de não ser tão nova assim, quem não me conhece, a principio, fica com dó e afirma - não pergunta - que a minha mãe deve me ajudar bastante! (Mal sabem elas que minha mãe nunca nem esteve por perto...)

- O que a sociedade não sabe é o quanto podemos nos tornar leoas para defender nossa cria, não importa quantos anos temos ou qual a nossa condição. Ser mãe ultrapassa os limites e o improvável. O que mais gosto é o fato de superarmos as expectativas! (Ou de calar as baixas...) -

E, pra finalizar: a nova sociedade te massacra, completamente, se você não pariu, amamentou nem compartilhou sua cama com a cria.

Certa vez estive num grupo de mães que já me excluíram do assunto só de eu ter mencionado que meu parto não foi natural e que minha filha dormia no berço dela. A partir daí, nem o fato de eu ter amamentado 1 ano e 4 meses - que teoricamente me incluiria na conversa - foi o bastante pra eu ter a chance de me juntar a elas.

As mulheres, ao invés de se juntarem para compartilhar experiências e juntas lutarem pela sua libertação - autonomia de vida e de seu corpo - fazem exatamente o que a sociedade faz com elas.

Quando eu falo sobre tolerância eu vejo essa palavrinha voando com o tempo, feito uma pipa, e a gente tentando agarra-la.

Eu fico confusa. Não sei se o futuro é retrógrado ou se as coisas não estão mudando de fato.
O fato é: aceitação é a palavra mais distante do meu vocabulário hoje. Tolerância é o caminho mais curto por essa busca.

Até porque, na real, ninguém tem que aceitar nem tolerar. A verdade é que as coisas são e deviam ser. E a gente deveria viver normalmente com tudo isso.


Foto: @fabianoaguiar

Fabiano Aguiar Fotografia

2 comentários:

  1. Olá! Adorei o texto, assim como tu sou tatuada, mas nos outros quesitos sou diferente, casada, com certo suporte familiar (ajuda com minha filha de 4 anos) faço tuas minhas palavras, mas pergunto por que buscamos tanto a afirmação de alguém, não importa qu seja esse alguém. Penso que se estás feliz e tua pequena também, isso é que importa. O fato de tu estar se saindo bem como mãe e em outros quesitos de tua vida já é o suficiente, no meu ponto de vista, que demostra ser totalmente diferente de tudo que tem de podre por aí. Passei a ter uma vida mais preocupada com minha familia e os que me são caros e me desapegar dessas picuinhas da vida, sou muito mais feliz assim. Te acho demais. Beijo Mel Navarro.

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  2. Olá! Passei um pouco pelas situações que você passa. Realmente a sociedade em geral adora apontar o dedo para criticar as pessoas. Mas poucos são aqueles que estendem a mão ou simplesmente respeitam. Engravidei com 14 anos, tive cesariana por indicação da médica com 15 anos. Não tenho certeza se a minha cirurgia era necessária ou não pois eu não tive acesso a esse tipo de informação. Não existia internet naquele tempo. Meia amigos foram proibidos de falar comigo pelos próprios pais. Alguns arriscavam me visitar escondido. Foi muito triste ficar isolada dos amigos durante a gravidez e nos primeiros meses de vida da minha filha mais velha ( ela hoje tem 19 anos). Hoje estou com uma segunda filha de 6 meses, nunca me casei, mas na segunda gestação "juntei" e tem sido difícil essa adaptação, ao mesmo tempo em que é maravilhoso gostar de alguém. Viver sob o mesmo teto tem vantagens e desvantagens. Viver solteira também. Vivi as duas experiências e não encontro motivos para preferir um ou outro modo de vida. São simplesmente escolhas. Toda escolha tem o lado bom e o ruim. Também sofri muito preconceito por parte de homens e mulheres. O tempo se incumbiu de colocar adolescentes grávidas solteiras em quase todas as famílias que haviam proibido seus filhos de falarem comigo. Outros adolescentes tiveram sérios problemas com drogas, o que é muito mais grave e difícil de se lidar do que uma gravidez.hoje tenho 34 anos. Minha tia cuidou da minha filha mais velha para eu poder estudar e trabalhar. Quase não vi minha filha crescer mas hoje tenho curso superior, pós graduação e um emprego estável para pagar as contas minhas e da minha filha mais velha, e ajudo essa tia sempre que posso. A minha bebê o pai paga quase todas as despesas sozinho e isso me ajuda muito com a mais velha pois ela está em ano de vestibular. Desejo do fundo do coração que você seja feliz com seu bebê e tenha sucesso em sua vida financeira. Não se preocupe com as pessoas que te excluem ou tratam mal. TODOS QUE FIZERAM ISSO COMIGO CAÍRAM SOZINHOS. Deus tem um jeito muito interessante de mostrar para cada pessoa que ela está errada. Forte abraço!!!!

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